quarta-feira, 17 de junho de 2009

ENTREVISTA COM A JOGADORA DA SELEÇÃO BRASILEIRA SUB-19 LlEIDILÂNIA FERREIRA

Aos 15 anos, Leidilânia da Silva Ferreira saiu da pequena Jataí, em Goiás, acompanhada do pai, para fazer um teste em um time de São Paulo. No bolso, apenas o dinheiro da passagem de volta. O medo era grande, mas a coragem e a força de vontade foram ainda maiores. Aprovada, Leidi ficou em Osasco, onde está até hoje defendendo o Finasa. Foi por lá também que a goiana conheceu a técnica Macau, que a acompanha na preparação da seleção brasileira sub-19 para os Jogos da Lusofonia, em Portugal, e para o Campeonato Mundial da categoria, na Tailândia. Esta será a quarta participação de Leidilânia em seleções brasileiras. Apesar do medo constante de ser cortada, ela já acumula no currículo dois Sul-Americanos (bronze no Sub-17 e prata no Sub-15 em 2007, ambos no Equador) e o bronze da Copa América – Pré-Mundial Sub-18 da Argentina (2008). A vontade de ser modelo e desfilar em São Paulo ficou de lado e deu lugar à pivô veloz, que se desmarca das marcadoras e se movimenta bem no garrafão, mas que ainda precisa aprimorar os chutes de três. Hoje, aos 18 anos e com 1,87m, ela se divide entre a seleção brasileira, os treinos no Finasa e a faculdade de Fisioterapia, onde cursa o primeiro período.

Como está a preparação para o Mundial?
Na primeira fase de treinos, em março, trabalhamos mais os fundamentos. Agora estamos vendo mais os detalhes. Estamos mais seguras e também mais entrosadas. O ritmo é intenso, mas não chega a cansar. Tem que ser puxado mesmo.

O que fazer para ficar entre as doze?
Estamos em treze, então, ainda haverá um corte. Eu tento treinar forte, prestar atenção nas jogadas, ter mais cabeça, mais visão de jogo, não me dispersar. Estamos fazendo vários amistosos e eu tento jogar bem, mostrar o que eu sei fazer de melhor.

Os amistosos são uma boa preparação para o Mundial?
Sim. Jogamos contra o time masculino de Jundiaí, o feminino adulto de Santos e o sub-21 de São Caetano. Só perdemos para os meninos. Jogamos também com um time americano que está em excursão no Brasil, o “Atletas em Ação”, formado por universitárias religiosas. A cada amistoso, os erros vão diminuindo. E os times são diferentes, como será no Mundial. Alguns são velozes, outros mais cadenciados. São partidas que servem para nos dar experiência. No time de Santos, por exemplo, as jogadoras eram bem mais velhas do que nós.

A assistente da seleção sub-19, a Macau, é sua técnica no Finasa/Osasco. Como é sua relação com ela?
A Macau não é só técnica. No Finasa, eles não estão preocupados em formar apenas o atleta, mas numa formação maior. A Macau conversa comigo sobre tudo. Eu moro sozinha em Osasco e ela é como mãe pra mim. Tudo que eu aprendi desde que fui para o Finasa, dentro e fora de quadra, foi com ela. Alguns momentos eu guardo para sempre.

Pode citar algum desses momentos?
O que mais me marcou foi depois da Copa América do ano passado. Fiquei dois meses parada por causa de uma lesão no joelho esquerdo. Os fisioterapeutas acharam que era melhor parar do que passar por uma operação. Eu nunca tinha parado de jogar. Me senti sozinha, pensei em largar o basquete, até porque não estava indo bem na escola. Eu ligava para a minha mãe, em Goiás, mas ela dizia que essa decisão tinha que ser minha, o que não me ajudava em nada. Então, conversei com a Macau, ela me deixou voltar a participar dos treinos, para assistir, e me explicou que para ser uma jogadora eu teria que abrir mão de certas coisas, me concentrar mais. Ela me conhece e sabe que eu poderia render mais. Agora estou recuperada do joelho, mas sei que vou precisar cuidar dele para o resto da vida.

Fale sobre sua experiência nas seleções brasileiras?
Jogo basquete há cinco anos e meio, enquanto algumas meninas aqui já jogam há 11, 12 anos. Então, sempre acho que vou ser a primeira cortada. Na primeira vez que fui convocada, tinha certeza que seria. Quando a comissão técnica falava que ia ter corte, eu já começava a suar frio. Nem acreditei que não me cortaram, porque era uma seleção sub-17 e eu tinha 15 anos. Era um Sul-americano e a Macau me explicou que eu ia mais para ganhar experiência. Entrei em quadra algumas vezes, quando o jogo já estava ganho, e na última partida, que era a disputa do bronze e nós ganhamos. Tive que entrar porque as outras pivôs estouraram o número de faltas. Minha atuação foi boa, fiz o que tinha que ser feito e nós conseguimos a medalha. Na Copa América Sub-18, em 2008, também fui bem, entrei em todos os jogos.

Qual é o seu diferencial como jogadora?
Sou bastante veloz para a minha altura. Esse é o meu diferencial. Costumo ser mais rápida do que as jogadoras que me marcam.

E o que precisa melhorar ainda?
Preciso melhorar o jogo de frente, aprender a sair do corta-luz, porque pivô joga sempre de costas para a cesta. Agora também estou treinando na posição de ala e preciso acertar mais os chutes de três pontos.

Você praticou vários esportes e ficou com o basquete. Por que?
Acho que o basquete me escolheu. Comecei no vôlei, mas as pessoas me viam jogando e diziam que eu tinha que tentar o basquete. Eu fui, mas nem sabia direito como era o jogo. Para piorar, briguei com o técnico da minha cidade porque ele era muito exigente e voltei para o vôlei. Mas fiquei só uma semana, não agüentei e voltei para o basquete. E tive que aturar ele. Hoje dou muita risada disso tudo, era só besteira de criança.

Como o Finasa/Osasco descobriu você?
Eu participava de jogos em Goiás, num campeonato estadual que fazem lá, e acabei sendo selecionada para a seleção goiana. Disputei um Campeonato Brasileiro em Florianópolis (SC). A Macau estava lá, me viu jogando e chamou para fazer o teste. Eu nem conhecia esses times de São Paulo, não sabia que chamavam pessoas da minha idade para jogar. Eu falei com meu pai que queria fazer o teste e ele me levou. Foram 26 horas de ônibus, ele precisou até pedir dinheiro emprestado. Depois que fui aprovada, assinei contrato e estou lá até hoje.

Como é sua vida em Osasco?
Moro em um apartamento com duas jogadoras. Mas quase não ficamos em casa por causa dos treinos e musculação. Ainda mais agora que estou fazendo faculdade de Fisioterapia à noite.

Está gostando da faculdade?
Sim, muito. Estou no primeiro período na Universidade Bandeirantes (Uniban), em Osasco. Só não sei como vai ser depois de tantas aulas que estou perdendo aqui com a seleção.

Sente muita falta da família?
Já me acostumei. Estamos nos falando pouco agora, por falta de tempo. Mas sempre que ponho crédito no celular eu ligo, passo mensagem. Tenho duas irmãs, de nove e 15 anos, que não se parecem em nada comigo, puxaram ao meu pai, que é baixinho, branco e de olhos verdes. Eu saí igual a minha mãe.

Pensou em seguir alguma outra carreira?
Queria desfilar, ser modelo. Como eu sou bem alta, volta e meia alguém me pára no shopping e pergunta se eu quero ser modelo, me dá cartão de visita, pede para ligar. Minha mãe foi miss. Os concursos de miss fazem muito sucesso na minha cidade. Eu cheguei a fazer book, mas agora já é um sonho distante. Já desencanei. Não dá tempo.

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