quinta-feira, 4 de março de 2010

BRASILEIRAS TROCAM O FEIJÃO PELO SONHO DE BRILHAR NO BASQUETE UNIVERSITÁRIO DOS ESTADOS UNIDOS

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Com a quadra às escuras, nem parecia véspera do início do campeonato. Empilhadas na mesa, pizzas de pepperoni e latinhas de refrigerante embalavam um papo animado sobre todos os assuntos – menos basquete – na única sala acesa do ginásio Tucker Coliseum. Era uma noite de domingo, 15 de novembro do ano passado, e o frio, para surpresa geral, ainda não tinha dados as caras em Russellville, pequena cidade ao sul dos Estados Unidos. Entre uma e outra risada, era difícil imaginar que os três meses seguintes seriam memoráveis para a Universidade de Arkansas Tech na disputa da Divisão 2 da NCCA. E o melhor: com tempero verde-amarelo.

Divulgação/Divulgação

Taise, Samanta e Natália: talento brasileiro a serviço da Universidade de Arkansas Tech, nos EUA

Foi naquela noite que Natália Santos, Taise da Silva e Samanta Ludwig receberam o GLOBOESPORTE.COM para contar como é a rotina de três brasileiras jogando basquete numa universidade americana. Ao lado delas, também de olho na pizza, divertia-se o assistente técnico Julio Pacheco, escudeiro do treinador americano Dave Wilbers (veja a entrevista) e responsável por levar as meninas para tentar a sorte nos Estados Unidos.



  • Aspas Nós ralamos bastante e estamos longe da nossa cultura, das nossas famílias. Mas viver essa experiência aqui conta muito (Samanta)"
Àquela altura, o quarteto brasileiro já encarava a experiência americana com sabor de vitória, mas ninguém podia prever que a temporada seria tão boa: na fase regular, foram 25 triunfos (incluindo os 16 primeiros jogos) e apenas duas derrotas. Resultado: a equipe ficou com o título da divisão Oeste e pegou moral para o March Madness, a fase de playoffs que se estende ao longo de março. O primeiro desafio é conquistar a conferência Gulf South, em minitorneio que começa nesta quinta-feira, contra West Florida.


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No caminho que leva ao Elite Eight, ao Final Four ou quem sabe ao sonho do título da Divisão 2 da NCAA, não vai faltar estrutura. Dos uniformes ao tênis novo em folha, das quadras de treino à enorme academia da universidade, as

 brasileiras vivem uma realidade que não existe nem nos clubes profissionais do basquete brasileiro (veja no vídeo abaixo). Mas é claro que elas sentem falta de muita coisa. Cada uma já tem sua lista:
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– Tapioca, guaraná, suco de maracujá e, no topo do ranking, pão francês – suspira a ala-pivô paulista Natália, titular em todos os jogos da temporada e um dos destaques do time, com média de 15,5 pontos e 7,7 rebotes por partida.


– Um carregamento de feijão, arroz, bife e batata frita, de preferência pronto – acrescenta a pivô Taise, também de São Paulo.


– Erva para tererê, suco natural de fruta e... coxinhaaaaaaa!!!! – sonha a ala Samanta, nascida em Toledo, no Paraná. As outras imediatamente concordam e ficam indignadas com a inexistência de coxinha de galinha por aquelas bandas.

Divulgação/Divulgação

Taise, Natália e Samanta fazem graça na entrada da universidade: bom humor nas horas vagas

Para uma jovem atleta, Russellville não é nenhum paraíso nos momentos de folga. Com pouco mais de 27 mil habitantes, a cidade vive em função de uma usina nuclear e, principalmente, da universidade. O jeito é se concentrar no basquete e nos estudos, reunindo os brasileiros sempre que possível para passar o tempo e fazer um pouco de bagunça.

– É lógico que eu gostaria de estalar os dedos e estar numa cidade como Boston, para poder ir aos shoppings, aos parques. Mas a gente se diverte, viu? Não importa o lugar, mas as companhias – explica Samanta, que acaba de completar 22 anos. 

Rodrigo Alves/GLOBOESPORTE.COM

No vestiário, cada jogadora tem local reservado, com tênis, uniforme e plaquinha com o nome

Basquete, estudo, comida e karaokê

Mesmo sem tapioca e pão francês, Natália sempre tenta reunir as amigas e sair para comer. Ou até para dar umas boas risadas na casa do assistente Julio Pacheco, com direito a churrasco e cantoria.

– Eu amo comer! Então estou sempre querendo sair para comer com as meninas. E vamos à casa do Julio cantar um karaokezinho – diverte-se a pivô de 23 anos.

Taise, também de 23, concorda e vê um lado positivo em morar longe da badalação.

– Os karaokês na casa do Julio são os mais engraçados. Mas morar numa cidade pequena ajuda. A gente se concentra 100% no basquete e nos estudos. Eu passo muito tempo no computador falando com a galera no Brasil – conta a pivô, que mudou seu curso para Relações Públicas no último semestre.

Na hora de falar sério, as meninas sabem que a sorte grande bateu na porta, com a oportunidade de jogar basquete com estrutura de primeiro mundo e, de quebra, receber uma educação de alto nível nos EUA.

- Nós ralamos bastante e estamos longe da nossa cultura, das nossas famílias. Mas viver essa experiência aqui conta muito – avalia Samanta, que estuda Relações Internacionais.

Rodrigo Alves/GLOBOESPORTE.COM

Aluna de Hotelaria/Turismo e Administração de Eventos, Natália até brinca com as poucas opções de divertimento ("Vida social? Não tenho uma!"), mas sabe que está fazendo a diferença longe de casa.

– Por ser uma cidade pequena, não somos só mais um número aqui. Somos tratadas como pessoas, sabem o nosso nome, de onde nós somos e o que nós fazemos. Às vezes sabem até demais – brinca.

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