Campeã olímpica em Atenas-2004 e bronze em Pequim-2008, a Argentina vem dominando, com sobras, o basquete sul-americano. Enquanto o Brasil tem o NBB engatinhando e luta para reconquistar seu espaço no cenário internacional, os hermanos colhem os frutos de um trabalho que começou há 25 anos, com a criação de uma liga nacional forte. Sem astros como Ginóbili, Nocioni e Oberto, a seleção está no Rio de Janeiro para a disputa de um torneio amistoso contra brasileiros, uruguaios e australianos, na sexta e no sábado. Após o treino de sexta-feira, no Maracanãzinho, o técnico Sérgio Hernández conversou com o GLOBOESPORTE.COM e explicou como a Argentina passou de país desacreditado para potência do basquete mundial.
GLOBOESPORTE.COM: A Argentina já passou por um período difícil, quando ficou muito tempo sem participar das Olimpíadas, mas hoje joga dentro de uma filosofia vencedora que independe da participação das estrelas. O que é preciso para chegar a este nível?
SERGIO HERNÁNDEZ: Assim como o Brasil, a Argentina sempre teve bons jogadores. São dois países que historicamente produzem bons nomes, mas não tínhamos uma organização muito boa no nosso país até 25 anos atrás, quando começou a Liga Nacional, com uma boa estrutura. Isso fez o basquete argentino ter um crescimento muito forte. O que também não tínhamos era experiência internacional. Mas aí veio o êxodo para outros centros, e isso aconteceu no momento exato. Porque não é bom quando eles saem muito jovens. Ginóbili, Nocioni, Oberto, Pepe Sanchez, Hermann, todos jogaram primeiro na Liga Nacional, três ou quatro anos, e depois foram para a Europa. Começaram a entender que o basquete argentino era lindo, mas faltava algo para competir com os melhores. Faltava disciplina, sentido de jogo coletivo. Há 15 anos, nossos jogadores tinham em seus quartos pôsteres de Bodiroga [Dejan Bodiroga, ex-jogador iugoslavo]. Depois começaram a jogar com Bodiroga, contra Bodiroga, e passaram a ganhar de Bodiroga. Com isso eles ficam muito melhores e, quando voltam à seleção, exercem todo o seu conhecimento. Além disso, a Argentina sempre tem um caráter muito forte, uma personalidade muito forte. Mesmo com poucos habitantes [40 milhões] e sem uma grande estrutura, nossos esportes coletivo sempre se destacam pela personalidade, pelo caráter e pela solidariedade. Foi assim que o basquete conseguiu, há cerca de 10 anos, uma identidade, uma filosofia. E se essa filosofia é respeitada por Ginóbili, por Nocioni, por Montecchia, como é que os outros não vão respeitá-la?
"O Brasil tem mais potencial, jogadores melhores atleticamente, mas a Argentina joga melhor coletivamente"
Brasil e Argentina têm uma rivalidade muito grande no esporte, mas os brasileiros em geral admiram muito o basquete de vocês e o têm como modelo. Você tem consciência dessa admiração?
Sim, sim. O brasileiro é muito autêntico, e não tem problema em dizer "nós somos melhores nisso, vocês são melhores naquilo". O Brasil tem mais potencial, jogadores melhores atleticamente, mas a Argentina joga melhor coletivamente. Os próprios jogadores admitem isso. Sabemos que os brasileiros têm admiração pelo nosso basquete, mas nós também invejamos a quantidade de atletas que vocês têm com o biótipo para jogar basquete.
O maior astro do seu time para a Copa América é o Luis Scola, um jogador que tem muitas semelhanças com o nosso pivô Tiago Splitter. Primeiro, porque jogaram juntos e se admiram. Segundo, porque sempre atendem às convocações da seleção. Fale um pouco sobre esses dois atletas.
Eles são muito amigos. Luis tem uma admiração e um carinho muito grande por Tiago, e vice-versa. Isso é o mais importante. São dois exemplos. Não apenas porque sempre estão na seleção, mas porque sempre chegam com o pensamento positivo. Não adianta estar sempre e pensar apenas nele, não pensar na equipe. Tiago tem corpo brasileiro e mentalidade internacional. Tem uma grande formação basquetebolística, sem dúvida é um dos melhores.
" O Brasil já teve seu momento com Oscar, Marcel, Carioquinha, todos juntos, assim como Ronaldo, Rivaldo, Bebeto e outros no futebol. Mas nem sempre é assim que acontece. É preciso aproveitar esses momentos e trabalhar sempre para as próximas gerações"
O armador Pablo Prigioni ainda não se apresentou. Você ainda tem esperanças de contar com ele para a Copa América?
É muito difícil. Se a situação dele não estiver solucionada no domingo, quando voltamos à Argentina, ele não jogará.
Isso significa que você terá de usar mais um substituto no time titular. E falando nisso, sempre se cogita como vai ser a seleção argentina quando a geração atual sair de cena. O que podemos esperar dos jovens que vão ocupar o lugar de Ginóbili, Nocioni & Cia?
Fala-se muito sobre isso na Argentina. É difícil dizer ao torcedor que já existe outro Ginóbili, porque não é assim que funciona. Precisamos ter paciência e, a cada ano, mudar aos poucos a geração. Ganhamos a medalha de ouro em Atenas e o bronze em Pequim com vários jogadores diferentes entre essas duas equipes. O Brasil já teve seu momento com Oscar, Marcel, Carioquinha, todos juntos, assim como Ronaldo, Rivaldo, Bebeto e outros no futebol. Mas nem sempre é assim que acontece. É preciso aproveitar esses momentos e trabalhar sempre para as próximas gerações.
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