quarta-feira, 15 de julho de 2009

ENTREVISTA – Mariana Camargo

Mariana_perfil A seleção brasileira adulta feminina está cheia de rostos novos. Um deles é o da ala/armadora Mariana de Almeida Camargo. Com a camisa número dez do Golden Eagles, a atleta deixou sua marca na Oral Roberts University, em Oklahoma, nos Estados Unidos. Na temporada 2005/06, Mariana ganhou vaga no time de calouros da Conferência depois de ficar em segundo nas recuperações de bolas (média de 2.1) e sexto lugar em assistências (8.0), além de ter uma boa atuação no seu primeiro jogo com 15 pontos, cinco rebotes, três assistências e três recuperações. Em 2006/07, começou como titular em 27 jogos e teve um papel fundamental na briga pelo título da Conferência. Na semifinal, anotou 13 pontos, seis rebotes e nove assistências. E na final, foram sete pontos e sete rebotes na derrota na primeira rodada do Torneio da NCAA. Na temporada seguinte, Mariana foi a cestinha do time com média de 13.3 pontos e a terceira reboteira com 5.1 e chegou perto de um Triplo-Duplo contra o Missouri State, com 14 pontos, dez rebotes e nove assistências. Foram três Duplos-Duplos na temporada: contra o Missouri, Texas Tech (20 pontos e dez rebotes) e IPFW (21 pontos e dez assistências). No último ano, foi a terceira cestinha do time e a 12ª da Conferência. A ala/armadora encerrou a carreira no universitário americano como a décima cestinha de todos os tempos (1.194 pontos), terceira em assistências (474) e quarta em recuperações (206).

Como recebeu a notícia da convocação?
Foi uma surpresa, porque eu estava há quatro anos nos Estados Unidos e é difícil alguém acompanhar o campeonato, porque tem muita gente lá fora. Na verdade foi uma surpresa muito boa porque tinha acabado meus quatro anos de faculdade. Eu tinha acabado de chegar em casa e recebi essa ótima notícia.
O que vem achando dos treinamentos com a seleção?
Estou gostando bastante. Além do grupo ser muito bom, os treinos estão bem equilibrados. A comissão técnica sabe dosar tudo muito bem, tanto a parte física como técnica. Eles estão nos observando, analisando, vendo as dificuldades de cada uma para melhorar, tentando nos deixar cada vez mais completas.
Já acostumou com a rotina de seleção?
Nem sinto falta de nada, porque estou acostumada. Geralmente, a gente fica tão cansada da academia e do treino em quadra em dois períodos, que quando tem um tempo livre, só queremos saber de descanso mesmo. Acho que todo mundo que está aqui sabe que veio para treinar, treinar e treinar. A gente já vem com o objetivo de dar o nosso melhor o tempo todo e isso inclui o descanso, que também faz parte do treinamento.

Conhecia as meninas que estão treinando com você?
Eu já conhecia as mais novas como Izabela, Jaqueline, Natalinha e Franciele. A Silvinha, que é de uma geração anterior a dessas meninas, eu também conhecia. As que estão a mais tempo na seleção é que estou tendo a oportunidade de conviver agora. É um grupo fantástico, me encaixei muito bem. As mais experientes têm paciência com as mais novas, explicam as coisas, dão dicas para melhorar. Está sendo uma experiência muito boa para mim.
E a expectativa de ir para a Copa América?
Seria ótimo ficar no grupo que vai para Cuiabá. Desde que saiu a lista, a gente cria aquela expectativa. Se você foi convocada é porque está bem e tem chance de ficar. Mas independente de ficar ou não entre as doze, tenho muito a aprender aqui. De qualquer maneira, eu saio ganhando. E o pensamento que eu tenho é que as doze que vão defender o Brasil na competição são aquelas que estão melhores no momento. Isso não significa que as portas estão fechadas para quem não for dessa vez.
Como surgiu a idéia de jogar nos Estados Unidos?mari_2
Um auxiliar técnico da universidade onde eu estava vinha muito para o Brasil e foi ver alguns Campeonatos Brasileiros e outras competições e ficou falando para eu ir jogar nos Estados Unidos por uns dois anos. No início, eu não queria muito ir, mas aí resolvi ver como era e acabei gostando.

Como era o treinamento na Universidade?
O treinamento é bem parecido com o da seleção. A diferença é que não treinávamos em dois períodos, porque tinha as aulas. Mas o treino durava entre duas horas e meia e três horas e tínhamos que dar cem por cento. Era sempre muito forte e foi bom para mim porque ganhei muito com isso.
E morar lá?
Eu morava na universidade mesmo, no dormitório. Era muito legal. Foi uma experiência muita boa para mim. Gostei muito de Oklahoma, tem uns lugares muito bons para se morar lá. Nas férias de verão, nos meses de junho, julho e agosto, eu vinha para o Brasil ficar com minha família. Gostei muito de ter ido para os Estados Unidos e faria de novo, não só pelo basquete, mas pela a experiência de vida.

Sentia muita falta da família?
O primeiro ano é o pior de todos. Você chega lá sem saber sobre a cultura, o idioma, sem conhecer absolutamente ninguém. Eu tinha saído de casa com 14 anos para jogar em outra cidade, mas viver em outro país é totalmente diferente. Eu pensei que ia ser tranquilo, porque já tinha a experiência de morar longe de casa e achei que ia ser quase a mesma coisa. Mas não foi. Cheguei lá, não conhecia ninguém, não tinha ninguém. Era uma outra língua e até acostumar foi bem difícil. Depois foi melhorando. Você começa a dominar o idioma, a fazer amigos e isso vai diminuindo a saudade de casa.
Agora que você está com a sua família, está com saudades dos amigos de lá?
Sinto saudades de todos. Não sei quando vou poder, mas quero voltar para rever meus amigos. Foram quatro anos morando lá e deu para construir muitas amizades.
Sobrava algum tempo para ter uma vida fora da quadra e das salas de aula?
Tinha alguns brasileiros e nos encontrávamos uma vez ou outra, mas minha vida era basicamente aula e treino. Não dava tempo para outras coisas. Ainda mais quando começava a temporada que a gente jogava todo sábado e segunda, de novembro a março, sem parar.

Você se formou no equivalente aqui no Brasil a Comércio Exterior. Já pensou em trabalhar nessa área quando parar de jogar?
Eu gosto bastante dessa área. Adorei a faculdade, as aulas. Acho que do mesmo jeito que sou feliz hoje jogando basquete, eu ficaria se trabalhasse com isso. Mas não penso nisso ainda não. Tenho muito tempo de quadra pela frente e quero aproveitar o máximo que eu puder.
mari_4 Já pensou o que vai fazer agora que se formou?
Não tenho idéia ainda. Assim que terminei a faculdade, meu plano inicial era ficar um tempo em casa. Mas saiu a convocação e numa hora muito boa para mim, porque posso jogar sem estar muito longe de casa. É claro que não estou na mesma cidade que a minha família, mas não estou tão distante da minha casa como quando estava nos Estados Unidos.
Por que escolheu o basquete?
Meu pai chegou a jogar basquete e era técnico de times masculinos em Blumenau. E eu sempre estava na quadra, brincando com a bola. Ser jogadora surgiu naturalmente, meu pai nunca falou nada. Na verdade, foi a técnica do colégio onde eu estudava que falou para eu começar a jogar serio.

Fale um pouco da sua trajetória no esporte.
Comecei com 10 anos no Colégio Sagrada Família, em 1995. No ano seguinte fui jogar no clube Vasto Verde, em Blumenau. Depois fui para Santo André, em 2000, na categoria infantil. Voltei e fiquei em casa um ano e fui para o antigo BCN/Osasco, que hoje é Finasa. Joguei lá no meu segundo ano de infanto e primeiro de juvenil em 2002 e 2003. Voltei para casa novamente por mais um ano e meio e segui para os Estados Unidos.
O que você gosta de fazer longe das quadras?
Gosto de assistir a filmes de suspense, de drama de vez em quando, e comédia, que é sempre bom para distrair. Também adoro música. Curto quase todos os ritmos, só sertanejo que não dá. Trouxe meu laptop com mais de 1.500 musicas.

Você tinha ou tem algum ritual antes dos jogos?
Não diria um ritual, mas uma rotina sim. Pelo menos quando eu estava nos Estados Unidos. Nós tínhamos um horário para arremessar antes dos jogos e voltávamos para o quarto para dar aquela descansadinha de meia hora mais ou menos. Depois nos arrumávamos para o jogo. Não gosto muito dessas coisas de ritual ou superstição. Tinha uma menina que jogava comigo que quando perdia um jogo, ela marcava a meia para não usar mais nas partidas, só em treino. Usava o mesmo top. Isso não é para mim não, muito trabalhoso.

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